A 3ª edição, com a participação de quase mil pessoas, resgata manifestações culturais e fortalece os vínculos comunitários

Texto e fotos: Felipe Cunha / Aedas Paraopeba

No último domingo, 8 de junho, as ruas da Zona Quente — como é conhecida a região do epicentro pelo desastre-crime do rompimento da barragem da Vale, em Brumadinho — se encheram de vida, cores e alegria com a realização da 3ª edição da Cavalgada promovida pela Associação Comunitária dos Bairros Parque do Lago, Parque da Cachoeira e Alberto Flores (ACOPAPA).  

O ponto de encontro do evento foi a praça da igreja matriz do Tejuco. Por lá, cavaleiros, amazonas e comitivas de diversas localidades de Brumadinho e região começaram a chegar cedo e foram recebidos com um café da manhã caprichado, preparado com muito carinho pela comunidade.  

O evento contou com a presença das pessoas atingidas das comunidades do Tejuco, Parque da Cachoeira, Conceição de Itaguá, Aranha, Melo Franco, Casa Branca, centro de Brumadinho, Córrego do Feijão, Residencial Bela Vista, COHAB, Mário Campos, Igarapé, Mateus Leme, além de moradores de Ibirité, Sarzedo, Bonfim, Nova Lima e até de São Paulo. 

Das comitivas presentes, estavam representantes das comunidades do Aranha, Córrego de Almas, Mário Campos, Bom Jardim e Sarzedo. Também participaram cavaleiros do Parque da Cachoeira, do Tejuco e de Conceição de Itaguá. 

Perto da hora do almoço, a Cavalgada — com cerca de 100 cavalos — partiu do Tejuco em direção ao Parque da Cachoeira, percorrendo um trajeto de aproximadamente 2,5 km. No destino, a sede da ACOPAPA se transformou em palco de festa. Barracas com quitutes da culinária local, como feijão tropeiro, macarrão na chapa, pastéis, caldos de feijão e de mandioca, canjica grossa e o tradicional churrasco de chão, além de artesanato e muita música, animaram o público e evidenciaram a riqueza cultural que as comunidades têm a oferecer. 

No palco, o show ficou por conta dos músicos Jean Moraes, que reside entre o Parque da Cachoeira e Tejuco, da dupla Fernando & Rangel, da região de Brumadinho, e de Laurinha do Berrante, de apenas 12 anos.  

A celebração reuniu quase mil pessoas e foi marcada pelo fortalecimento dos laços comunitários e pela reafirmação da importância da tradição e da união em tempos de reconstrução e resistência em territórios atingidos pela mineração. 

Vanessa Cristiane, presidenta da ACOPAPA e moradora atingida do Parque do Cachoeira, disse que “a organização da Cavalgada contou com o apoio de membros da diretoria da associação. Os cavaleiros contribuíram na divulgação e na convocação das comitivas. Além disso, o evento teve e dos setores público e privado”.  

Segundo ela, “o nosso maior desafio foi realizar a Cavalgada em apenas 25 dias”, e complementa: “Recebemos o e de empresas locais, da Prefeitura Municipal, da ATI Aedas na divulgação do evento e na área de comunicação visual e voluntários. Também contamos com o apoio da PM de Brumadinho e com o Setransb”.  

Vanessa Cristiane e Kelma Araújo, da ACOPAPA

Vanessa também ressaltou que a Cavalgada é mais do que um evento: “é um fio condutor que tece a união entre as comunidades do Tejuco e do Parque da Cachoeira.  É uma oportunidade de fortalecer os laços afetivos que nos unem, criando memórias inesquecíveis e cultivando o sentimento de pertencimento”. 

E complementa: “Mais do que isso, a Cavalgada projeta uma imagem positiva da nossa comunidade, abrindo portas para melhorias significativas, gerando renda, impulsionando o turismo e enriquecendo nossa cultura. Observar famílias inteiras, crianças, adultos e idosos, de todas as classes sociais, participando juntas, é como ver o coração da nossa comunidade pulsando forte e cheio de vida. É uma demonstração emocionante de como a interação cultural pode transformar nossa comunidade e a nossa história”. 

Cavalgada reforça cultura, união e pertencimento

Para Kelma Araújo, também residente atingida do Parque da Cachoeira e membro da ACOPAPA, a Cavalgada deste ano, mais uma vez, foi de muita potência: “A energia estava contagiante, e foi maravilhoso ver tantas pessoas unidas para celebrar essa tradição. A organização foi excelente, e as apresentações trouxeram um toque especial ao evento. Sem dúvida, foi uma experiência memorável que reforçou a importância da nossa cultura e das nossas raízes. Mal posso esperar pela próxima!”. 

Kelma também reforça o valor de manter viva essa manifestação cultural: “Manter a tradição da Cavalgada é fundamental para a comunidade porque fortalece os laços entre as pessoas, promovendo um senso de pertencimento e identidade cultural. Além disso, eventos como esse celebram nossas raízes e histórias, ando valores e conhecimentos de geração em geração. A Cavalgada é uma oportunidade de reunir famílias e amigos, estimular o turismo local e valorizar o trabalho de artistas e artesãos da região. Assim, preservamos nossa cultura enquanto promovemos a união e o orgulho comunitário”. 

A força da Cavalgada na vida e na memória dos mineiros

Heloísa Pimentel, participante atingida da Cavalgada, e proprietária de imóvel no Parque da Cachoeira, comentou sobre a edição deste ano: “Na edição anterior, o percurso foi menor e grande parte realizada em terreno pavimentado. Particularmente isso acaba prejudicando a interação do cavaleiro/amazona com o ambiente. Neste ano, a Cavalgada trouxe um novo percurso, maior, mais seguro e melhor na minha opinião, pois aconteceu em “chão batido”, permitindo escutar o som dos animais na mata e o barulho da água”. 

Ela também destacou a presença da juventude: “Percebi que o número de comitivas vem aumentando consideravelmente, de todos os lugares e um público formado por crianças e jovens acompanhadas dos pais, avós, adultos, homens e mulheres unidos em um prazer absoluto que é conviver com os cavalos”. 

Para Heloísa, manter viva a tradição da cavalgada é fundamental para o desenvolvimento local: “É nessa convivência que fortalecemos os laços comunitários, promovemos o turismo rural, fortalecemos o comércio local, ou seja, é um grande impacto social positivo. Manter essa tradição é fortalecer toda uma cadeia de serviços e uma das formas de promover o desenvolvimento local”. 

Ela finaliza destacando o que montar a cavalo representa para sua vida: “Como amante do animal, montar um cavalo para mim é sem dúvida a maior conexão que um ser humano pode ter com o universo. É terapêutico, é bonito, além de ser uma atividade interativa. Nós somos dois em um. Acontece a criação de um laço que une os cavaleiros e amazonas em um só objetivo: fazer aquilo que gosta trazendo beleza e reforçando a tradição mineira”. 

Vanessa Cristiane também enfatiza a presença das mulheres e da juventude na Cavalgada: “Observamos muitas mulheres montando a cavalo. Além disso, a presença de várias crianças também foi marcante, evidenciando como o evento é inclusivo e promove a participação de todas as idades”. 

Próxima edição

Vanessa informa que já estão pensando na programação da quarta Cavalgada para 2026: “Temos a intenção de incorporar um caráter social ao evento, solicitando a doação de alimentos não perecíveis para serem destinados a uma instituição. Essa ação visa beneficiar nossa comunidade e fortalecer ainda mais os laços de solidariedade entre todas e todos”.  

Para o próximo evento, Vanessa espera por mais tempo na organização e programação, “oferecendo um tempo maior do que neste ano. Isso permitiria que tudo fosse realizado com mais tranquilidade”, conclui. 

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Texto e fotos: Felipe Cunha / Aedas Paraopeba