Moradores expressam preocupações sobre saúde, qualidade de vida e preservação ambiental durante reunião com consultoria

Apresentação da CERN em Mário Campos | Foto: Comissão de atingidas e atingidos de Mário Campos

Na última quinta-feira, 11 de julho, moradoras e moradores das comunidades de Capão e Funil, em Mário Campos, se reuniram com a Consultoria e Empreendimentos de Recursos Naturais (CERN), que presta consultoria para empreendimentos minerários, para discutir a construção do Programa de Educação Ambiental (PEA), relacionado ao empreendimento minerário entre Mário Campos e Brumadinho, da MIT – Mineração, conhecido como Mina do Benvindo. 

Atualmente, o projeto de mineração da MIT – Mina do Benvindo está na fase de Licenciamento Ambiental, com a elaboração de Estudos de Impacto Ambiental. 

As pessoas presentes na reunião demostraram insatisfação, pois esse foi o primeiro momento para dialogar sobre a instalação da Mina do Benvindo. A reunião tratou de propostas de Projetos de Educação Ambiental (PEA) antes mesmo da apresentação mais geral sobre o empreendimento minerário na região.  

“Como nós vamos discutir projetos de educação ambiental se nem sabemos a dimensão e todos os impactos que esse empreendimento pode causar na nossa comunidade?”, questionaram as moradoras e moradores de Mário Campos durante a reunião.  

As representantes da CERN indicaram que essa é a ordem estabelecida na legislação dentro das etapas do licenciamento ambiental e que outros diálogos sobre outras temáticas serão realizados com a população. Além dos Projetos de Educação Ambiental, também foram apresentados os levantamentos feitos com a comunidade, no entanto, poucas dúvidas foram sanadas com relação aos impactos ambientais previstos. 

Moradoras e moradores expressam preocupação 

Fotos enviadas pela comissão de Mário Campos

Convivendo com os impactos do rompimento da barragem da Vale S.A. em Brumadinho desde 2019, as moradoras e os moradores de Mário Campos temem por danos à saúde e pela perda de recursos naturais em um território já atingido.

Sammantta Bleme, representante da comissão de atingidos e atingidas e moradora do Funil, expressou: “A preocupação é realmente sobre o impacto que a comunidade vai sofrer. A poeira, a poluição sonora, o tráfego intenso de caminhões, a questão da água e do meio ambiente, porque o Funil é um bairro rural, pacato de certo modo. Nós temos um convívio muito grande com a natureza aqui e hoje a preocupação é que isso tudo acabe. Onde nós vamos viver? Qual a qualidade de vida que teremos com a instalação desse processo de mineração?”. 

Margarida Maria Teixeira, representante da comissão e moradora do Funil há 40 anos, diz que sua comunidade é maravilhosa e teme pelos danos da mineração nos arredores. 

“Onde entrou mineradora, não tem sossego! Nós já sofremos muito com o rompimento da barragem de Brumadinho e agora essa mineradora querendo vir para cá nos deixa muito tristes. Vai ter muita gente doente, e as pessoas mais velhas poderão não ar. Temos minas de água maravilhosas aqui. Poderemos perder tudo isso. Inclusive, tenho água de mina na minha casa; ela poderá acabar. Estão dizendo que não haverá barragem. Mas meu marido, há 3 anos, trabalhava na mina Pau Branco da Vallourec e uma pilha lá estourou, quase que ele morreu, quase que o caminhão dele foi arrastado. Aí eles dizem que não tem perigo?! Nossa preocupação é essa: não vai ter barragem, mas perigo tem sim!”. 

Jerry Lopes também mora no Funil e saiu da comunidade do Tejuco, em Brumadinho, justamente por causa das minerações, vendeu seu sítio por metade do valor e mudou-se para a comunidade do Funil em busca de paz. Ele desabafa e pontua a questão da autonomia hídrica dos moradores locais. 

“Agora fiquei sabendo dessa mineração. Mexo com minhas criações, tenho minhas plantações e meus filhos moram comigo. E, de uma hora para outra, você fica sabendo da mineração. Na época de seca: vento e poeira. Na época de chuva: erosão e barro. Eles vão simplesmente tirar o minério e nos deixar com a erosão. Minha água também é água de mina, tenho criação de peixes; você acha que com a mineração vou continuar tendo água de mina?”, afirmou o atingido com preocupação. 

Abaixo, vídeo enviado por Jerry, ex-morador do Tejuco, em Brumadinho, e atual morador de Mário Campos, mostrando a poeira e os deslizamentos de terra gerados por empreendimentos minerários no Tejuco

A comunicação sobre esse novo empreendimento minerário foi realizada a pedido das comissões de Mário Campos, que entendem que a população deve ser informada, ouvida e respeitada durante o processo de instalação.